Parece mentira. Eis que, ao fim de 2 anos, a vontade de escrever regressou. Não sei se é um bom sinal, mas quero acreditar que sim.
     Afinal de contas, escrever sempre foi o meu bálsamo, a minha cura para quase tudo... E é bom sentir o mesmo alívio de outrora, ainda que momentâneo. Já é melhor que nada.
     Ao contrário de antigamente, não quero mais voltar a cair naquela espiral de descontrolo, de depressão onde me encontrei durante meses a fio. Hoje, na tranquilidade de um fim de tarde à beira-rio, olhei para a água e pensei na sorte que tenho por ainda poder desfrutar de momentos destes. Assusta-me pensar no quão perto estive de acabar com tudo, assusta-me pensar na questão "e se eu tivesse tido coragem?"... E o medo que tenho de deixar que tudo volte é aterrador. Porque eu rio, sorrio, tento fazer rir, mas tudo isto é a minha forma de lutar contra os fantasmas que diariamente me assombram. Os fantasmas constantes de uma pessoa que tem de fazer o luto por outra que ainda está viva.
     E é por isso que é tão difícil. É difícil sair da cama de manhã e ter vontade de viver. É difícil viver numa rotina que não consegues mudar, por muito que tentes. Trabalho, depressão, depressão, trabalho. Deveria ser casa ao invés de uma palavra tão forte, mas nos últimos meses estas duas palavras têm sido sinónimos.
     Soa-me ridículo falar no mesmo assunto 7 anos volvidos, mas... 7 anos. Como é que já passaram 7 anos e ainda me lembro de tudo como se fosse ontem? Com o mesmo entusiasmo do início, com a mesma desilusão, a mesma mágoa, a mesma dor do final?
     Há coisas que nunca mudam e é bem verdade. Ou se calhar não... Pensando melhor, as coisas mudam. Nós é que nem sempre aceitamos bem essa mudança e tentamos, com toda a força, reter na memória todos os pormenores, por mais insignificantes que possam parecer, porque nos momentos de maior aflição, de maior desespero, eles ajudam. Ajudam a aceitar que acabou, mas foi maravilhoso enquanto durou. Muitas vezes, eles são mesmo a única prova que temos de que a nossa história se passou da forma como nós a contamos, são a única prova de que precisamos para não começarmos a questionar a nossa sanidade mental.
     E apesar de, nos últimos anos, terem sido cada vez menos as pessoas a terem conhecimento desta história, eu ainda penso nela todos os dias. Porque ao contrário do que toda a gente pensa, esta foi A HISTÓRIA da minha vida.

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