Mãe

Lembro-me de ser menina e de sonhar. Sonhar que íamos ficar juntas até ao fim, independentemente do que pudesse acontecer. Por um motivo muito simples: eu amava-te. Amava-te como julgava que nenhum filho era capaz de amar uma mãe. Tu eras minha e eu era tua. Isso bastava.
Era tão bom adormecer com a tua mão agarrada à minha, para ter a certeza de que não ias mudar de cama a meio da noite, que não me ias deixar a dormir sozinha. Sabias perfeitamente que eras tudo para mim. Mas mesmo assim, não hesitaste em deixar-me. E porquê? É algo que até hoje ainda não percebi... Não consigo entender porque me entregaste sabendo que eu não conseguia estar sem ti, que precisava de te ver todos os dias para estar bem. Nada me dava mais gozo do que chegar a casa e saber que íamos estar só as duas. Eu e a minha mãe. A mãe que eu idolatrava e por quem dava tudo, aos 9 anos... O problema é que decidiste acabar com tudo de um momento para o outro. Decidiste abandonar-me e isso provocou um sofrimento inexplicável. Chegar a casa e nunca te ter lá, adormecer a chorar por ter vontade de te sentir perto de mim... São momentos que ainda hoje, passados sete anos estão bem presentes na minha memória. Desapareceste da minha vida durante seis longos meses, mas quando vinhas ver-me, tudo ficava bem. Eu sentia-me feliz, completa.
Na hora de ires embora, deixava-te ir, ficando depois a chorar quando via que não ias voltar para trás para vir buscar-me, como muitas vezes prometeste. "Nós vamos voltar a ficar juntas". Foram estas as palavras que tantas vezes me dirigiste. Eu, criança que era, acreditava, vivia iludida, com esperança de que fosse verdade. Quando começava a duvidar, tu voltavas a prometer, para, mais uma vez, me desiludires.
Sabes, tudo podia ter sido diferente. Erraste muito comigo ao renegar uma responsabilidade que era tua e de mais ninguém. Se hoje sentes falta do meu abraço, do meu carinho, das minhas palavras meigas... fica sabendo que eu senti exactamente o mesmo. Talvez hoje dês valor àquilo que eu senti quando partiste da minha vida sem olhares para trás e veres o mal que me estavas a fazer.
Ainda não te perdoei e, sinceramente, não me parece que algum dia consiga fazê-lo completamente.
Mas tenho uma coisa a pedir-te: perdoa-me o facto de não te conseguir amar. Porque, apesar de tudo, não gosto de pensar que te magoo.

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